quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Feliz Drummond 2010


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Passagem do Ano


O último dia do ano
Não é o último dia do tempo.
Outros dias virão
E novas coxas e ventres te comunicarão o calor da vida.
Beijarás bocas, rasgarás papéis, farás viagens e tantas celebrações
...

O último dia do tempo
não é o último dia de tudo.
Fica sempre uma franja de vida
onde se sentam dois homens.
Um homem e seu contrário,
uma mulher e seu pé,
um corpo e sua memória
um olho e seu brilho,
uma voz e seu eco,
e quem sabe até se Deus...

...

Surge a manhã de um novo ano.

As coisas estão limpas, ordenadas.
O corpo gasto renova-se em espuma.
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Carlos Drummond de Andrade, A Rosa do Povo

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

O Historiador Como Colunista





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Conhecia Peter Burke, através de entrevistas, como professor emérito da Universidade de Cambridge। Acabei de ler o volume O Historiador Como Colunista e gostei muito. Trata-se de uma coletânea de ensaios publicados na Folha de São Paulo pelo referido historiador que assume ver novelas e lê a cultura contemporânea reorientada a partir das experiências virtuais.

Neste livro ele escreve, dentre outros, sobre livros e autores, idéias e culturas, instituições e idiomas. Analisa mitos, estéticas, comportamentos (o ensaio sobre o silêncio é um dos meus prediletos) e destaca práticas existenciais do cotidiano e de pessoas comuns (o ensaio sobre os shoppings é exemplar). Bom mesmo é sacar que Peter é um autor que lê e escreve sobre o seu tempo, com a linguagem do seu tempo.

A escrita leve e a multiplicidade de temas lidos por um recorte histórico e cultural tornam a leitura do volume bastante produtiva para diferentes áreas das ciências humanas, já que personagens e assuntos de diferentes contextos permeiam a obra. Nela gostei de ler, em vários ensaios, referências a autores que aprecio como Montaigne, Borges, Walter Benjamin, Gilberto Freyre e Mikhail Bakhtin.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Revista Veja

Em comemoração ao seu aniversário de 40 anos, a revista VEJA abre todo o seu acervo de existência na Internet. Ai vai o link de acesso à todas as revistas Veja, editadas pela Abril nesses últimos 40 anos, de capa à contra-capa, incluindo todas as páginas, isto é, proporcionando uma consulta na íntegra em formato digital no endereço
http://veja.abril.com.br/acervodigital/
É um trabalho impressionante e creio que servirá como fonte de consulta e garimpagem de dados para efetivação de eventuais trabalhos de pesquisa.

A primeira edição de VEJA foi publicada em 11 de setembro de 1968.

Mais de 2 mil edições impressas foram digitalizadas por uma equipe de 30 pessoas.

O banco Bradesco patrocinou a iniciativa.

Feliz Natal




domingo, 20 de dezembro de 2009

Resenha sobre Escolhas

Caros alunos

Como a resenha será o tema da nossa aula no dia 06/01, segue no link abaixo a nossa resenha que foi publicada no Caderno Idéias do Jornal do Brasil em 19/12/09.

http://arquivodeformas.blogspot.com/2009/12/saberes-praticas-e-escolhas.html

sábado, 12 de dezembro de 2009

TEMPO FESTIVAL


quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Resenha



A resenha consiste em examinar e apresentar o conteúdo de obras prontas (texto-base), acompanhado ou não de avaliação crítica (não deve ultrapassar 10 linhas). Na resenha, leva-se em consideração, além das ideias levantadas, a divisão, a disposição da obra, a estrutura, a forma e o estilo do autor, o método de abordagem, a linguagem empregada. Inclui, ainda, julgamentos de valor, tais como comparações com outras obras da mesma área, a relevância da obra em relação às outras do mesmo gênero, a originalidade do tema ou do tratamento dado ao tema, a consistência, o rigor da abordagem teórica e etc.

PARTES ESSENCIAIS DA APRESENTAÇÃO DE UMA RESENHA

@ Identificação da obra: autor, título, editora, total de páginas;

@ Credenciais do autor: formação, publicações, atividades desenvolvidas na área;

@ Conteúdo: ideias principais, pormenores importantes, pressupostos para o entendimento do assunto e breve explicação das conclusões do autor;

@ Crítica: determinação histórica e metodológica (científica, jornalística, didática) da obra, contribuições importantes, estilo, forma, méritos, considerações éticas.


Como se faz uma resenha

Usada em atividades acadêmicas e no jornalismo cultural, a crítica a obras exige capacidade de síntese conjugada a uma boa argumentação.

Por Geraldo Galvão Ferraz

Escrever uma resenha é um excelente exercício de redação. A resenha é a espécie de texto mais usada em atividades acadêmicas e está sempre presente no chamado jornalismo cultural. O que popularmente recebe o nome de “critica” de livros, filmes, CDs, DVDs, peças teatrais, balés, exposições, shows, nada mais é do que resenhas. Ou seja, sínteses e comentários sobre uma obra artística. Claro, elas podem abranger apreciações sobre livros técnicos, científicos ou filosóficos.

O objetivo da resenha, geralmente, é hoje divulgar o fato cultural e servir ao seu leitor como uma bússola em meio à produção cada vez maior da indústria cultural. Quem entra numa mega livraria abarrotada de milhares de ofertas, tende a sentir-se mais confortável se já leu uma resenha de tal ou tal livro. Resenhas ajudam na seleção bibliográfica para trabalhos acadêmicos ou científicos, evitando perda de tempo com leitura de livros e mais livros, e funcionam para a atualização de estudiosos.

A resenha oscila da síntese para a análise e vice-versa. Será bem sucedida a resenha que equilibrar essas duas vertentes.



Usando uma lista de verificação

Para ajudar na síntese do conteúdo da obra, uma lista de checagem da avaliação pode incluir o “assunto”, ou seja, do que a obra trata e seu desenvolvimento, os objetivos do autor com seu texto, como evolui o raciocínio do autor, o que geralmente é explicitado capítulo a capítulo.
Se você ainda quiser fazer uma verificação final, após ter escrito a resenha, uma lista de chek-in como a dos pilotos que vão fazer um avião decolar, há algumas perguntas que você deve responder:

@Seu texto está adequado ao público para que você está escrevendo?

@Sua resenha mostra que você é uma pessoa que refletiu sobre o texto e tem um repertório suficiente para avaliá-lo?

@Está na resenha o que o autor destacou como importante na sua obra?

@Aqueles elementos essenciais da estrutura da resenha estão todos ali?

@Suas opiniões estão equilibradas e fundamentadas? Você não cometeu excessos de avaliação?

Releia para conferir se adjetivos, verbos estão corretos e se não há problemas de correção gramatical no texto.

RESPEITAR O LEITOR

O resenhista tem de saber exatamente a que público se destina seu trabalho. Uma resenha acadêmica exige um determinado tipo de texto mais culto e permite citações mais complexas. A jornalística requer um texto mais acessível e o cuidado de situar fatos e pessoas com as devidas explicações para um público não tão enfronhado no assunto.

Como a resenha é um texto breve, uma boa dica é capturar o leitor desde o primeiro parágrafo ou da primeira frase. O melhor é descobrir algo provocativo, intrigante, que agarre o leitor de cara. As resenhas acadêmicas, contudo, seguem um modelo quase padronizado, de ter um cabeçalho informativo sobre os dados bibliográficos da obra resenhada, depois passam para os dados do autor, seu currículo acadêmico, por exemplo.

Para a resenha não-acadêmica, não há tais limites. Identificar algo insólito sobre o texto ou sobre o autor pode ser um modo interessante de começar. Ou falar de um aspecto muito recorrente, como o texto em forma de diário, o filme que conta a história em flashback, o CD que revive standards de uma década afastada...


Equilibrar a síntese

Por ser texto breve, é recomendável usar frases curtas e diretas. Fazer o contrário é dar pijama e travesseiro para o leitor. Não se perca em detalhes demais, porque o espaço é curto. Pense na condição básica: resenha é síntese.

Na estrutura essencial da resenha há certos elementos que não devem faltar. Onde você irá colocá-los, é questão de gosto e estilo. Sem desprezar o bom senso. Uma menção ao nome do autor, a descrição do conteúdo da obra, a avaliação, a comparação com outras obras do mesmo autor, tema ou contexto histórico-artistico e uma conclusão que sintetize a opinião de quem escreve. Comparar um livro ou um filme com outros semelhantes – ou diferentes – pode ser esclarecedor na busca de aspectos originais ou vigorosos daquilo que se resenha.

O estilo do autor é outra pista a ser seguida. Da mesma forma que a maneira de construção dos personagens a avaliação de que eles serão lembrados ou esquecidos em pouco tempo.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Getúlio, Mito









Carlos Heitor Cony, com a honestidade intelectual que lhe é marcante, escreveu durante várias semanas, ao tempo em que trabalhava na revista Manchete, os capítulos daquele que viria a ser o livro Quem Matou Vargas। Na apresentação, o escritor-jornalista, que havia sido o alvo preferido do ministro do Exército do primeiro governo militar pós-64, general Arthur da Costa e Silva, que lhe moveu vários processos, levando-o inclusive à prisão, confessa a desfavorável impressão que, na mocidade, tivera de Getúlio Vargas. Na única vez em que o vira pessoalmente, “ajoelhado num suntuoso genuflexório”, tal posição física produzira-lhe juízo negativo. “Sabia que aquele homem não era católico, nem acreditava em Deus. Por que ajoelhar-se então? Por cortesia, por bajulação à Igreja?”.
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Aconteceu que era para escrever sobre Vargas e Cony pesquisou a sua infância, a sua adolescência, os seus tempos de acadêmico de direito, enfim, “todas as etapas da sua vida”. Entrevistou parentes, amigos, inimigos, adversários, pessoas que trabalharam com e contra Vargas. Leu coleções inteiras de jornais e muitos livros. Viajou quilômetros não contados e fez incontáveis anotações, longo fichário. Ao final de tudo isso, Carlos Heitor Cony, na parte introdutória de Quem Matou Vargas, conclui: “Se não fosse Getúlio Vargas, hoje eu estaria sentado na Cinelândia, junto dos homens de minha geração, tocando aquela flautinha para encantar serpentes। Turistas amáveis, de blusões coloridos, dariam gorjetas e tirariam fotografias. Esse seria mais ou menos o Brasil em que estaríamos vivendo se não tivesse ocorrido aquilo que se pode chamar de Época de Vargas. Sei que é preciso ter um pouco de audácia para afirmar isso, mas afirmado está. E a audácia vai mais longe: disse, no início, que não devia nada a Getúlio. Pensando bem, vejo que lhe devo, lhe devemos muito”.
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À página 125, o escritor, comentando o estilo de agir do chefe do governo provisório constituído pela Revolução de 1930, não titubeia, afirma: “Nascia um político — o maior da história do Brasil”. Opinião também manifestada por Barbosa Lima Sobrinho, do alto da sabedoria e da experiência de quem viveu o século 20 inteiro em entrevistas às Páginas Amarelas da revista Veja, aos 97 anos.

O veredito favorável a Vargas, como reconhece o autor de O Ato e o Fato, exige audácia. Realmente. É da historiadora Aspásia Camargo este registro: “Para admiradores e correligionários, Vargas foi o símbolo da emancipação nacional, da criação de um Estado forte e soberano e do trabalhismo nascente. Para irredutíveis adversários, o político das manobras, maquiavélico, prepotente, o ditador e o caudilho”. Temos aí, na observação da historiadora, a tese e a antítese. Barbosa Lima Sobrinho (primeiro historiador da Revolução de 30), conhecendo singularmente todo o processo político brasileiro do século 20, e Carlos Heitor Cony, tendo com absoluta isenção mergulhado, investigativa e analiticamente, no estudo da personalidade e da atuação do notável gaúcho, apresentam, com autoridade inquestionável, a síntese. Síntese da obra fecunda e fecundante do solitário de Itu.

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EURICO BARBOSA, ex-deputado e ex-presidente do TCE, é historiador e autor, entre outros livros, de Confissões de Generais। Pertence à Academia Goiana de Letras, da qual foi presidente।

O mito continua









Revista Época, Edição nº 327 História
Em lançamentos e reedições, os escritores se rendem à lenda e arrancam Getúlio Vargas da História para mergulhá-lo na pura ficção



Luís Antonio Giron

Getúlio Vargas rende mares de tinta, apesar de o assunto ter sido praticamente esgotado pelos acadêmicos e não haver fatos novos revelador neste cinqüentenário। No terreno das teorias conspiratórias e da ficção, porém, Vargas está saindo da História para entrar na Mitologia। Da enxurrada de lançamentos e reedições, destacam-se três títulos: o romance Getúlio, de Juremir Machado da Silva (Record, 434 págs., R$ 44,90), o ensaio Vitória na Derrota - A Morte de Getúlio Vargas (Casa da Palavra, 248 págs., R$ 39,90), do sociólogo Ronaldo Conde Aguiar, e o folhetim Quem Matou Vargas, em edição revista e aumentada (Planeta, 256 págs., R$ 37,50), de Carlos Heitor Cony.

Se o romance contém doses cavalares de pesquisa, os demais títulos, aparentemente objetivos, carregam na fantasia.Ninguém que aborda o tema resiste a especular sobre o crime da Rua Tonelero, até hoje não resolvido, e imaginar as circunstâncias do suicídio: a motivação, a carta-testamento, a conversa entre Getúlio e seu irmão, Bejo, antes do gesto final. Mesmo a célebre frase da carta-testamento - 'Saio da vida para entrar na História' - é posta em dúvida. Muitos acreditam que ela foi acrescentada depois, já que não consta do rascunho de Getúlio. Com tantos elementos, a imaginação dos escritores sobe até a estratosfera. O homem, o político e sobretudo o enigma Getúlio continuam fascinantes

'Ainda não foi escrita a grande biografia de Getúlio', reconhece Cony. 'E não serei eu a escrevê-la, pois é preciso fôlego para dar conta da documentação. Além disso, o biógrafo deverá decifrar o episódio da Tonelero.' Trata-se de um legítimo 'crime perfeito', segundo o autor, que busca resolvê-lo pela imaginação. Seu livro supõe que a Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA) foi responsável pela armação do atentado para derrubar o governo. 'Isso aconteceu na Guatemala e se repetiu no Chile', compara Cony. 'No Brasil, o governo americano mantinha pessoal treinado e pode ser que tenha tramado um golpe.' O texto, publicado na revista Manchete, em 1967, é deliciosamente conspiratório, cravado com fartas rajadas de ficção. Cony, de 78 anos, confessa que não gostava de Getúlio na juventude, mas mudou de opinião: 'Sem ele, o Brasil seria uma nação atrasada'.

Aguiar, sessentão, ex-petista e professor da Universidade de Brasília, admira Getúlio desde a infância. Acha que nesse assunto a imaginação é incontrolável, mesmo para um cientista social como ele. 'Meu texto se divide em três blocos', diz. 'Os primeiros capítulos são reportagens, depois pulo para a análise. E o estilo que usei no último é a ópera.' O livro exibe uma empolgante mistura de documentação e suposição. 'É possível que o Império Americano, as multinacionais e a direita tenham tramado tudo', viaja. 'Não há crise política que resista a um cadáver moço, e fardado. Vaz, jovem, casado e pai de quatro criancinhas, cabia no figurino.' Em sua análise, Getúlio foi uma das muitas vítimas do imperialismo na América Latina. 'Mas fez do suicídio um triunfo.'

Machado da Silva tem 42 anos e não viveu a era Vargas. Mesmo assim, ambicionou penetrar na consciência do ditador. Não descobre nada de novo, mas jura que seu projeto biográfico não fracassou: 'Fiz uma opção estética. Sou um romancista em busca de bons assuntos'. Sem assumir posição, o romance dá voz a várias interpretações por meio de personagens reais e de ficção. O fio condutor lembra Conversa na Catedral, do peruano Mario Vargas Llosa: Tércio, ex-militante comunista, trava um diálogo com Angel, namorada da ex-mulher de Bejo (atenção: é um 'romance pós-moderno', como diz o autor, o que significa que não tem compromisso com a verdade) no Catete. 'Getúlio foi um labirinto dentro do labirinto', supõe o escritor. O leitor se sente assim mesmo, desorientado pela montanha de hipóteses e visões contraditórias. Ali, entre cenas escatológicas e digressões, os seres de ficção são frágeis e soterrados pelos de verdade. Machado da Silva entrevistou 72 sobreviventes. Faz desfilar figuras como a ex-vedete Virginia Lane, que jura até hoje, aos 82 anos, ter sido amante de Getúlio e vivido temporadas na fazenda dos Vargas. Gegê, como Virginia o chama, teria sido assassinado. O autor se ocupou no passado em demolir os mitos sulistas Érico Veríssimo e Mário Quintana, mas sucumbiu aos encantos do caudilho. 'Afinal, sou gaúcho, de Santana do Livramento', diverte-se, referindo-se às raízes fronteiriças comuns com seu herói. 'Iniciei vendo-o como ditador. Mas passei a simpatizar com ele. Apesar de tudo, Getúlio fez mais pelo Brasil que Lacerda, polemista genial.' O narrador se deixou tragar pela lenda. E o leitor flutua em dúvidas. ''Ele foi um labirinto dentro do labirinto'', diz o romancistaTornou-se consenso afirmar que Getúlio produziu o cadáver mais ativo da História brasileira। O amuleto necrofílico conseguiu atrasar o golpe militar em dez anos e, apesar de o ciclo do trabalhismo ter-se encerrado, segue produzindo fumaças fantásticas. 'Foi ditador, revolucionário e estadista', observa Cony. Aguiar dispara: 'Com todos os defeitos, ele tinha um projeto para o Brasil'. Getúlio ainda é uma esfinge devoradora.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Getúlio

Caros alunos de História

Aqui está o link para o texto que escrevi sobre a exposição “Eu, Getúlio”:
http://arquivodeformas.blogspot.com/2009/07/eu-getulio-fragmentos-do-modernismo.html

Vejam no post seguinte o texto para a próxima aula.

Até sexta-feira

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Por Uma Vida Sem Parágrafos Longos


Pablo Capistrano*

O meu amigo jornalista Alex de Sousa, me disse na Sexta feira passada: Olha Pablo, eu gosto dos seus artigos, mas eu vou lhe dar um toque de amigo, você escreve uns parágrafos longos. Você vai desenvolvendo a idéia e chega uma hora que o sujeito já está quase sem fôlego. Diminua esse negócio, rapaz!

Escrever com parágrafos curtos é uma grande sabedoria jornalística que nós, escritores formados no solo vicioso da academia demoramos muito a desenvolver. Só os neuróticos escrevem parágrafos longos. A neurose está na tal da obsessão pela idéia. Os filósofos geralmente tem essa doença. Eles (eu me incluo aí também) padecem dessa grande obsessão pela clareza, pela exatidão. Os filósofos são acostumados a treinar a mente para o detalhe, para a picuinha. Se você pegar a Crítica da Razão Pura de Kant, por exemplo, vai ver que o sujeito demora umas dez a onze páginas para exaurir uma única idéia.

Tem gente que diz que as trezentas páginas do livro giram em torno de umas duas ou três intuições filosóficas. A grande agonia dos filósofos está em encontrar a idéia perfeita ou, em destruir de modo inequívoco a suposta idéia perfeita de outro filósofo. Essa obsessão faz parte das regras do jogo filosófico.

Talvez por isso a filosofia seja tão parecida com o Tênis ou com o Golfe. São esportes ótimos de jogar mais incrivelmente tediosos de assistir. Imagine o tipo de tortura que deve ser, caro leitor, passar duas horas assistindo na TV um jogo de golfe. Só os aficionados conseguem tal proeza. Ler a Crítica da Razão Pura é como assistir um jogo de golfe, ou você é aficionado (e por isso mesmo, no mínimo, um jogador amador) ou não vai conseguir sobreviver as dez primeiras páginas. Importante lembrar que nem toda filosofia é feita dessa forma. Basta dar uma olhada nos telegráficos aforismos dos pré socráticos.

A escrita literária, a crônica, os artigos de jornal, por sua vez, devem se espelhar no futebol. Um jogo simples, que qualquer um consegue jogar e se entreter assistindo os outros jogarem. Eu, por exemplo, não consigo chutar uma bola numa trajetória reta numa partida de futebol (talvez por isso, quando era criança, sempre me colocavam na zaga). No entanto, não há como me manter indiferente a um Flamengo e Vasco. Não é preciso ser aficionado para deixar-se encantar pelas regras do futebol. Do mesmo modo que não é preciso ser um iniciado no jogo da literatura para gostar de um bom livro.

As obsessões neuróticas dos parágrafos longos também podem contaminar a vida dos sujeitos. Você imagine o tipo de inferno que deve ser a existência de alguém que transforma sua própria vida num tratado, numa monografia, numa dissertação. Longos dias debruçado sobre um único problema cotidiano. Longas noites de insônia envolvido em uma mísera circunstância da existência. A aflição dos neuróticos é a do disco arranhado, que topa num ponto e não consegue avançar, fazendo com que o camarada passe boa parte do seu tempo na terra girando em círculos, preso no rodamoinho de um único detalhe. Isso acaba fazendo com que o sujeito transforme seus dias numa gigantesca sucessão de parágrafos imensos, de longas digressões, de inevitáveis labirintos, de infindáveis tratados monográficos.

O toque que o Alex de Sousa me deu não serve só para o texto. Serve para a vida. Dá até para imaginar uma campanha publicitária com o lema: Diminua seus parágrafos, a vida é bem maior que suas obsessões. Que o texto da nossa vida seja leve como um poema do Leminski!


* Escritor, professor de ética e filosofia do direito. pcapistrano@hotmail.com

I Encontro Nacional de Divulgação de História e Ciências Sociais








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Caros Amigos,

No próximo dia 11 de dezembro, vou palestrar sobre o Café História no contexto da divulgação da História no Brasil. Gostaria de convidar a todos para este momento importante na História do Café História e, sobretudo, no campo das ciências humanas.

A palestra faz parte do I Encontro Nacional de Divulgação de História e Ciências Sociais, evento planejado e executado pela Revista de História (da Biblioteca Nacional) e o Ministério de Ciência e Tecnologia. O evento acontece na Casa da Ciência (Botafogo - Rio de Janeiro) nos dias 10 e 11 de dezembro.

Além de mim, também serão palestrantes: Manoel Salgado, Eugênio Bucci, Ângela de Castro Gomes, Mary Del Priori, Renato Lessa, Ancelmo Gois, Nélson Pereira dos Santos, Keila Grinberg e outros nomes importantes de nosso país.
Mais informações no convite anexo.

Obrigado e Abraços!
Bruno Leal
Jornalista e Historiador (RJ)Rede Social Café História